A Casa Tombada - Centro de Estudos e Pesquisas em Arte, Cultura, Educação.




o caminhante, o ato de caminhar, o caminho 

sobre a Pós Graduação Lato Sensu

CAMINHADA COMO MÉTODO PARA ARTE E EDUCAÇÃO 

Edith Derdyk

  

No começo, era o pé.

Marvin Harris (apud SCLIAR, 2010)

 

 

Na paisagem pós-contemporânea trilhas se abrem para ativar programas, estratégias e enunciados visando a prática da caminhada como procedimento poético, para além da caminhada funcional, mas também como dispositivo para leituras de mundo sob distintos pontos de vida[1] oriundos de vários saberes das artes e das ciências (humanas e exatas). 

Pensar sobre a caminhada inclui considerar o caminhante (sujeito), o ato de caminhar (verbo) e o caminho (substantivo) como uma unidade tripartida povoando o mundo de sentenças, frases, tessituras, balbucios e versos, relatos de toda ordem, narrativas em forma de signos verbais e visuais compondo pensamentos coreográficos a partir das experiências sensíveis de corpos moventes nos territórios. 

E o que será que uma caminhada produz, sendo uma ação tão efêmera e tão permanente, tão usual e tão epifânica, tão funcional e tão performativa, tão natural e tão estética, simultaneamente? Serão estas as deambulações e derivas que motivam a caminhada – por si só, uma matéria movente – a ser a espinha dorsal do corpo em torno do qual circula todo o percurso da pós-graduação Caminhada como Método para Arte e Educação, que coordeno n’A Casa Tombada desde 2018.   

Caminhar, atividade arcaica – porque desde sempre é vocação da natureza humana realizar travessias extensas no tempo e  no espaço, até para a garantia de sobrevivência – e,  ao mesmo tempo, uma ação ingressa no campo artístico e literário a partir do século XIX, é a protagonista que embasa o processo formativo da pós-graduação, conferindo entrecruzamentos de distintas áreas do conhecimento, projetando e incorporando experiências atávicas, simbólicas, históricas e existenciais referentes ao nosso percurso civilizatório.

[1] Expressão emprestada de Emanuelle Coccia (2018).

Daí emerge o contorno que ajuda a formular essa pós-graduação Caminhada como Método sob a ótica da indisciplinaridade – aquela que atravessa e é atravessada por distintos campos do conhecimento – da literatura à antropologia, da geografia à intervenções urbanas, da etnografia aos registros visuais (desenho, vídeo, fotografia), da história à arte performativa. Enfim, o processo formativo da pós intenta entrelaçar um arco extenso de experiências humanas que, de algum modo, envolvem o ato de caminhar – seja funcional ou poético – como propulsores de saberes e sabores, pautado nas observações do aqui e agora, do cotidiano, do Infraordinário como alude Georges Perec (2008) em seu livro de mesmo nome.

 

Nada nos chama a atenção. Não sabemos ver. Tem que se ir mais adiante, quase torpemente. 

Obrigar-se a escrever sobre aquilo que não desperta o interesse, aquilo que é mais evidente, mais comum, mais invisível. 

A rua; tratar de descrever a rua, do que é feita, para que serve. A gente das ruas. Os carros, que tipo de carros. (...) 

Obrigar-se a ver com mais simplicidade.(PEREC, 2022) 

 

Pensar a caminhada como experiência sensível, produtora de conhecimento, fomenta o trampolim para experimentarmos esta ação simples e comum a todos dentro de um ambiente de aprendizagem, enunciando/anunciando e reconhecendo que, substancialmente, a experiência da caminhada promove a ‘metáfora do encontro’. 

A pós-graduação Caminhada como Método para Arte e Educação, tal como agora está formulada, é resultante de camadas de tempo nas quais tenho investigado, desde 2004 em minhas pesquisas artísticas e educativas, as correlações entre caminhar, desenhar, escrever, fabular a partir de corpos que se movem nos territórios. E, ainda assim o formato da pós é modulado e revisitado a cada turma, a cada módulo, a cada aula, passo a passo, curva a curva, costurando horizontes móveis tal como o próprio assunto deste curso per-formativo se dá a ver – seja pela forma, seja pelo conteúdo – a caminhada como matéria movente. Como coordenadora vou percebendo (sim, percebendo porque a conjugação temporal se dá no gerúndio) como cada aula-passo, cada passo-encontro, cada encontro-experiência vitaliza e atualiza processos de afirmação inventiva que reverberam na busca incessante de uma ética pedagógica, vislumbrando a perspectiva da educação como algo que sempre se coloca em movimento.

As conjugações de aulas mais expositivas – recheadas de apresentações conceituais, históricas, teóricas, regadas com informações iconográficas que apresentam a produção de artistas, pesquisadores, cientistas, cartógrafos, escritores, enfim… – com proposições práticas – que são experimentações de conceitos através de enunciados propositivos que ativam o caminhar explorando espaços urbanos, rurais e naturais – acontecem de modo a explorar o profundo entrelaçamento entre, o que usualmente nomeamos, teoria e prática. Aqui o desejo expresso é a abolição dessas fronteiras: praticamos conceitos e investigamos a escuta das percepções e afetos no jogo incessante entre o cultivo da sensibilidade cognitiva e o da inteligibilidade sensível, compreendendo o corpo como lugar – essa nossa fábrica singular e coletiva, trituradora de emoções e informações, pendulando entre os campos da observação, memória e imaginação.

 

Andar es um arte que contiene em su seno el menhir, la escultura, la arquitectura y la paisaje. 

A partir de este simple acto se han desarrollado  las más  importantes relaciones que el hombre ha estabelecido com el territorio[1] [2] (CARERI, 2013)[3] 

 

Enveredando por esta via expressa em direção à presentificação do corpo em movimento como lugar no tempo e no espaço, e assim rememorando o conceito proposto por Francesco Careri (2013) que inaugura o assunto da caminhada na cena contemporânea em seu livro inaugural Walkscapes: caminhada como prática estética  – o caminhante é um menir ambulante ,   o processo per-formativo da pós circula em torno da caminhada e seus percursos históricos. Evidenciar a construção da ponte entre a poética da experiência  e a experiência da poética, isto é, apreender do tempo o tempo mais lento da atenção aos modos de evidenciar a transformação da experiência sensível do corpo-caminhante no território dos saberes em construção narrativa através de relatos que cartografam e explicitam tais experiências, é um dos entre muitos destinos almejados.


No caso das derivas, mais especificamente, o ato de andar, que na maioria das vezes não visa nenhum objetivo prático, exige até alguma forma de explicação: cria, por assim dizer, o espaço e a necessidade do relato. Os vários meios que os artistas podem utilizar para transmitir a ação realizada ou, em alguns casos, apenas planejada, isto é, fotos, vídeos, anotações, objetos encontrados ou uma combinação disso tudo, nada mais são, de fato, que relatos, versões atualizadas de ‘tópoi’ literários como o conto de viagem ou de  investigação. (VISCONTI, [4] 


O grande enigma a ser constantemente atualizado como enigma, inalcançável  justamente por ser um enigma, se dá pelas beiradas e frestas que escapam das fronteiras entre tantas informações, abrindo alguma luz possível para clarear as   investigações de como articulamos os signos verbais e visuais oriundos das experiências sensíveis e cognitivas, como damos voz aos  pensamentos, como agarramos as percepções tão fugazes, como associamos isso com aquilo, como  amalgamamos os nossos processos criativos condensando, agarrando, participando, evidenciando estas correlações indissociáveis entre a poética da experiência  e a experiência da poética no âmbito da caminhada como método ou como dispositivo sensível para a construção de  conhecimento? [5] 

Sempre bom recuperar as raízes das palavras que são nossos alicerces: a palavra experiência aqui é compreendida sob a égide das reflexões de Jorge Larossa (2014) que nos desvela uma paisagem ligada, etimologicamente, com a imagem de travessia perigosa, daquilo que nos toca, nos atravessa, nos transforma. E a palavra poética, que Paul Valéry (2000) sintetiza de forma lapidar em seu ensaio Poesia e pensamento abstrato, quando diz que poética, derivada de poiesis, se trata de um fazer singular que acorda os sentidos, em todos os sentidos. 

A conjugação dessas palavras de forma inversa produz efeitos interessantes para a estrutura desta pós, que aqui apresento de forma muito sintética: a poética da experiência se refere a aprender a perceber o ato de caminhar como uma ação performativa grávida de poiesis; e a experiência da poética se refere ao aprendizado de como transformar a experiência sensível e efêmera em materialidade física, através de relatos e narrativas –- sejam estes objetos artísticos, pensamentos reflexivos, textos literários, formulações pedagógicas, tratados filosóficos. De modo que tais relatos promovam no leitor/co-autor experiências estéticas, estas que acordam os nossos sentidos. O percurso desta pós localiza o ir e o vir constante pela ponte entre a poética da experiência e a experiência da poética como um lugar possível onde nos encontramos coletivamente. Para tal, seguem versos de Lenine (2004) da canção A ponte.

Mas como é que faz pra sair da ilha?
Pela ponte, pela ponte

 

A ponte não é de concreto, não é de ferro
Não é de cimento
A ponte é até onde vai o meu pensamento
A ponte não é para ir nem pra voltar
A ponte é somente pra atravessar
Caminhar sobre as águas desse momento

 

Explicitando de outro modo esse lugar-ponte entre a poética da experiência e a experiência da poética, me pergunto: como modular a consagração dos binômios  significante/significado, forma/conteúdo? Já disse Clarice Lispector (1994) que “a forma vem grávida de conteúdo”. Realinhando, destaco que forma/significante e conteúdo/significado são aliados atuando na construção de elos que se reorganizam, de forma orgânica, a cada encontro-aula, a cada mirada, a cada tropeço ou deslize, a cada nova linha de horizonte que emerge ou submerge no decorrer de nossa pequena grande jornada de 18 meses. 

Em outras palavras: o caminhante-pesquisador, no decorrer da formação, é convidado a se arriscar na aventura de mergulhar num processo de autopoiesis, conectando informação e experiência, percepção e conceito, relativo aos conteúdos oferecidos no decorrer da pós. O intuito é incorporar a aprendizagem como um campo móvel da invenção, visando a formulação de uma metodologia pessoal, singular, intransferível aplicada às suas áreas de interesse. Não à toa os estudantes que procuram a pós vêm de formações muito distintas – arte, educação, história, geografia, literatura, psicanálise, filosofia....afirmando a vocação indisciplinar dessa matéria – a caminhada. 

Os ensaios Dédalo e labirinto, de Tim Ingold (2015), e O método desviante, de Jeanne Marie Gagnebin (2006), são algumas das nossas bússolas, orientando pontos cardeais na localização de onde, quando e como o nosso corpo habita e atravessa o tempo e o espaço, num eterno desejo humano que balança entre a necessidade de refúgio e evasão, de morada e  deslocamento, de familiaridade e estranhamento, de proximidade e distanciamento. São essas algumas das leituras de sustentação que auxiliam a coragem para borrarmos as fronteiras entre Arte e Educação, mirando decifrar outras paisagens, visando acessar os ambientes afetivos de aprendizagem com tonalidades mais colaborativas, associativas, comunais, sem deixar de dar relevo a todas as singularidades que compõem cada grão no chão desta passagem.    


não temer os desvios, não temer a errância. Os programas e “cronogramas” somente servem de esboços utópicos do percurso de uma problemática. Não esquecer que o tempo é múltiplo: não é somente “chronos” (uma concepção linear que induz falsamente a uma aparência de causalidade), mas é também “aiôn” (esse tempo ligado ao eterno, que, confesso, ainda não consegui entender...) e, sobretudo, “kairós”, tempo oportuno, da ocasião que se pega ou se deixa, do não previsto e do decisivo. Quando algo acontece na aula, quando algo pode ser, subitamente, uma verdadeira questão (para todos: estudantes e professor, não só para este último), aí vale a pena demorar, parar, dar um tempo, descrever o impasse e, talvez, perceber que algo está começando a ser vislumbrado, algo que ainda não tinha sido pensado (não por ninguém na tradição filosófica inteira, isso é abstrato, mas por ninguém dos participantes concretos agora e aqui na aula), algo novo e, portanto, que não sabemos ainda como nomear. (GAGNEBIN, 2006)

 

Aos poucos, sim, aos poucos, aos goles, como coordenadora envolvida no esquadro das aulas – compreendidas como espaço relacional vivo, aberto e vertiginoso, onde cada aula é um risco na paisagem (social, afetiva, histórica, cultural e por que não biocósmica) que se apresenta como possibilidade de investigação – cada vez mais percebo a porosidade entre a arte de educar e educar para, sobre, pela e com a arte. 

A convocação dada pela oferta de diversos pontos de vida para nos inscrever/ escrever/descrever/sobrescrever os caminhos inesperados das tessituras sendo costuradas no decorrer deste percurso, se pauta na coragem das errâncias, dados os desafios do viver em terras movediças como as que estamos atravessando, coletivamente, aqui no Brasil. 

Curiosamente as formações das turmas para frequentar a pós, desde 2018,  coincidem com os desvios éticos e políticos nos quais o Brasil mergulhou em nossa   profunda crise de representação democrática e na constante defesa dos direitos de ser. Enfatizo isso também para dar relevo ao esforço d’A Casa Tombada e de todos nós para, ainda assim, seja nas turbulências políticas e econômicas somadas à época épica pandêmica que   nos colocou em recolhimento, ainda assim sustentarmos todos os cursos da pós, atravessando desertos em busca de oásis. E assim tem sido! 

Retornando à questão específica   das conjunções entre o que usualmente se entende como teoria e prática, a abolição dessas fronteiras tão cartesianas que cindem o corpo da mente, que distinguem o pensar do fazer, que territorializam a forma e o conteúdo em muros cercados, que dividem o significante do significado. Essa questão específica deriva as múltiplas tentativas de visualizar outras chaves de aprendizagem comunal, constituída de vozes timbradas compondo um coral dissonante e sinalizando veementemente que caminhar é um pensamento encarnado que  se desloca materialmente, que ao pensar se faz e ao fazer se pensa. Cultivamos a projeção dessas ignições de maneira que possam provocar faíscas e clarões, iluminando imaginários políticos e poéticos que se realizem no campo da invenção – o único modo possível de realizarmos travessias singulares e plurais. 

O campo da invenção é o próprio ambiente ecológico da aprendizagem que ali vislumbramos realizar na pós, como princípio ético e estético. E a cada turma, com suas combinações alquímicas e dinâmicas muito próprias, atualizamos o nosso aprendizado mútuo, que converge para a formulação, sempre inacabada,  de um curso per-formativo em incessante  formação: Caminhada como Método para Arte e Educação

A partir da muvuca oferecida, isto é, a partir dos ingredientes oferecidos em cada módulo (a seguir descritos), vamos entrelaçando os saberes e os sabores no decorrer de cada encontro, provocando processos investigativos que tornem visíveis as metodologias pessoais, singulares e intransferíveis que cada caminhante-pesquisador vai construindo no decorrer do percurso. Importa acessar e desparafusar o modo como cada caminhante-pesquisador estabelece sentidos, articula informações, associa suas observações com memórias (pessoais, afetivas, sociais, culturais, históricas, biocósmicas) e pavimenta imaginários por meio de registros textuais e visuais, o que acaba transparecendo na apresentação do trabalho final. Nomeado como Relato de Caminhante, ele se realiza ao término da jornada de 18 meses para consagrar, publicizar, assinalar, participar, socializar, comungar, partilhar as experiências constituídas através da linguagem, cujas narrativas são materializadas de vários modos – de livro de artista à performance, de escrita literária à programa educacional, da pesquisa etnográfica à revisitação de histórias pessoais.   

Neste momento da minha escrita, tropeço em dois menires  (CARERI, 2013)   – as palavras método e muvuca –   palavras estas que solicitam um momento de pouso e de pausa, sugerido pelo parênteses que inauguro logo a seguir, para cavoucar campos soterrados de sentidos:

A palavra método, que aliás compõe o nome da pós-graduação – Caminhada como Método –, carrega em sua etimologia a raiz latina derivada de methodus – “a maneira de ir ou ensinar, ir atrás”. Decodificando suas partes: meta – “atrás, depois, em seguida” + hodos –“caminho” + logos – “palavra, estudo, tratado”. Aplicando os sentidos originários da palavra metodologia – usualmente entendida no sistema educacional e científico como uma armadura canônica dada a priori pela instituição ou ambiente de aprendizagem – aqui, no contexto desta pós, ela será absorvida como uma equação criativa para a construção do pensamento sensível ou da sensibilidade cognitiva que cada caminhante-pesquisador irá se apropriar através de suas experiências, no decorrer da caminhada. Assim se explicita o modo como se caminha, sinalizando o tônus pessoal, ou seja, o modo de compor, articular, relacionar, associar, projetar e enunciar, através das composições de um Relato de Caminhante, a sua narrativa relativa à caminhada a partir, sobre, com, algum território do saber.

As premissas enunciadas no livro de Hannah Arendt (2021) com o título absolutamente sugestivo de Pensar sem corrimão e no ensaio O método desviante de Jeanne Marie Gagnebin, já citado anteriormente- , serão outros pilares para sustentar o ambiente de produção de conhecimento a partir do cultivo da sensibilidade. Cada aula-encontro – além de propiciar um banquete de referências bibliográficas, iconográficas, literárias, videográficas, a partir de cada recorte dado pelo artista e pesquisador convidado em torno da caminhada e suas conexões com a Artes e as Ciências – será contaminada pela técnica da muvuca, como estratégia para a ativação individual e coletiva dessas metodologias ainda sem forma, sem nome, sem endereço.

A palavra muvuca, cuja matriz africana mvúka significa febre intermitentebagunça, confusão, excesso de pessoastambém carrega uma raiz na matriz indígena, que significa mistura. Muvuca se trata de uma técnica de reflorestamento sintrópico que recompõe, na mesma área, a produção de hortaliças, frutas e madeira ao mesmo tempo, recuperando áreas degradadas e protegendo o meio ambiente. A técnica provém da mistura de mais de 30 espécies distintas de sementes nativas, grãos e areia que são lançadas, aleatoriamente, numa terra preparada para recebê-las. E nunca se sabe, exatamente, o que irá brotar e frutificar. 

É uma técnica de cultivo que aqui utilizo como metáfora para a ambiência da aprendizagem como lugar de trocas da multiplicidade polifônica de referências que são lançadas no decorrer da formação, com sementes que vêm de várias áreas do conhecimento – geografia, história, literatura, filosofia, antropologia, história, etnografia, além das linguagens expressivas (desenho, escrita, vídeo, fotografia, performance) – como modos de captura das experiências e  informações. Daí a ideia de que esse curso possui, por vocação, uma   natureza indisciplinar, dados os entrecruzamentos de sementes distintas que geram uma tessitura de sentidos modulados de maneiras singulares, tendo a caminhada como chão cultivado, eixo de sustentação e horizonte à vista, atravessando e agregando distintos saberes povoados de estranhos sabores e dicções inaugurais.  

Tenho apreendido que a técnica da muvuca é amplamente utilizada no percurso desta pós, fertilizando os territórios pessoais ao oferecermos muitos repertórios de ordens distintas, cuidando do chão, do solo, dos caminhos, atalhos, veredas, vias expressas, nos tornando a todos partícipes do que brotará como narrativas e proposições investigativas em relação ao propósito da caminhada como eixo gerador.

Maffesoli (2001) afirma queTodas essas pequenas errâncias espaciais não deixam de criar uma aura global – que pode, de acordo com as épocas, assumir maior ou menor importância – e lembram aos sedentaristas a força irreprimível da caminhada.” E quais serão os vetores de sentidos explicitados pelas proposições ao redor da caminhada, propulsora de conhecimentos e sensibilidades para um ambiente de Pós- Graduação? Ao nos darmos conta de que somos a única espécie animal ereta que caminha longas distâncias, estendendo rotas pelo planeta inteiro, desde sempre, desde os tempos arcaicos e imemoriais – cruzando horizontes, interligando saberes, trocando sabores, imaginando encontros inesperados, desenhando novas rotas/roteiros para territórios já mapeados – o   assunto caminhada se torna um elemento agregador, pois é comum a todas as pessoas, em todos os tempos e lugares. 

Ao mesmo tempo, esse assunto se tornou recorrente, desde o livro já mencionado de Francesco Careri, visibilizando o ingresso dessa matéria no circuito de produção artística contemporânea a partir da década de 1960, assunto atualizado principalmente pelas manifestações populares que ocuparam as ruas das cidades no mundo inteiro, explicitamente com início na Primavera Árabe e, aqui na cena brasileira,  desde as jornadas de junho de 2013.  

E porquê, pincelando o tônus histórico mais recente, nos importa visibilizar aquilo que é subjacente e recorrente como experiência civilizatória no que diz respeito  ao ato de caminhar, e que se revela em todas as narrativas – sejam dos nossos  caminhantes-pesquisadores, mas também de artistas e cientistas —: a balança vertiginosa entre o cotidiano e o desconhecido, o enfrentamento do inesperado, o estranhamento do outro, o chamado da evasão, a constatação do exílio, a vocação do nomadismo e a eterna busca do refúgio e aconchego, o atravessamento de fronteiras, as migrações, as cartografias geopolíticas, a formação dos centros urbanos, o direito de caminhar para além do caminhar visto como função pragmática e programática para garantir o funcionamento das sociedades.   

As experiências de deslocamento espaço-temporais são pilares históricos para o campo da invenção e construção de conhecimento  – na Arte, na Ciência e na Técnica.  A presença recente e já recorrente do ato de caminhar como substância poética na cena contemporânea traduz, impacta e introduz nossos anseios éticos, poéticos, estéticos, de forma constitutiva, nas problemáticas socioculturais a serem visibilizadas, sinalizadas, legitimadas, compondo outras paisagens locais e globais. Talvez o ato de caminhar seja uma espécie de manifesto do transbordamento das fronteiras entre ética, estética, política, principalmente em momentos tão turbulentos pelos quais estamos vivendo. 

Tais palavras têm adquirido muito relevo, seja na política, seja na arte: margem, fronteira, borda, limite, muro, contorno, centro/periferia. São palavras-chaves muito presentes e, de certo modo, inflacionadas. O atravessamento de muros invisíveis instalados, corrosivamente, nos territórios urbanos e rurais, instauram no corpo uma colisão de desejos entre a necessidade suprema de evasão, mobilidade, deriva, deambulação, travessia, nomadismo por um lado; e, por outro lado, a busca de refúgio, habitação, aconchego, gerando uma fricção libertária, um corpo que sempre escapa. 

De outro modo, o agrupamento humano em ilhas fechadas – condomínios culturais, bolhas legendadas por palavras de ordem, ancoradas num modo de produção baseado no sistema financeiro especulativo, cujo projeto econômico modela o corpo num âmbito funcional das noções de eficiência e competência, que correspondam às demandas produtivas exigidas pelo mercado – instauram um corpo encerrado na imobilidade e no sedentarismo permanente. Todas essas questões são pipocadas em nossas pequenas experiências de caminhar pelo bairro, pela casa, da casa ao trabalho, arriscar locais nunca antes caminhados, enfim, tudo ecoa e reverbera nos corpos em movimento pelos territórios. 

Daí a extrema importância do registro de nossas experiências desta pós-graduação – Caminhada como Método para Arte e Educação –, e das outras que A Casa Tombada oferece e sustenta, como ato deliberado de posicionamento frente às demandas corrosivas ligadas à Educação. No caso específico, esta proposição, além de fomentar a caminhada como método poético, ativa as fricções de resistência a este fluxo líquido, impressas nas relações humanas. Relações que são alvo de capturas moduladas por um modelo de vida capital, que encapsula nossos corpos, sonhos e desejos num modo de existência que contraria a vocação originária da própria razão de ser a vida – a nossa grande aventura coletiva das mudanças perceptivas que o campo da arte e da ciência, como sistemas de interpretação de mundos, podem oferecer como passaporte fundante para o deslocamento do conhecimento entendido como extensão dos nossos sentidos sensíveis.

Uma longa caminhada sempre se inicia com um primeiro passo”A partir dessa expressão taoísta, constatamos que quaisquer que sejam os motivos e as intenções prévias de alguma caminhada, sabemos que sem caminhante não há caminho! Sem corpo não há caminhante! Sem o primeiro passo, não existe caminho. E todos os passos serão, sempre, um primeiro passo.  O imaginário que nasce dessa prática poética, nasce pela condição sine qua non da presença de um corpo, ou de corpos, em   deslocamento: corpo que observa e absorve; corpo que restaura memórias soterradas; corpo que projeta ações para ativar outros significados na paisagem percorrida, liberando percepções, reinventado horizontes; a presença de um corpo presente. 

A constatação física do território convoca conexões temporais, dada a presentificação do presente, promovendo evocações do passado e vontades de futuro.   E os relatos – que são os testemunhos cúmplices dos/das caminhantes-pesquisador/as  legitimam a experiência singular, cartografando narrativas que se desdobram em distintas materialidades: de livros de artista a performances; de textos a fotografias; de instalações a intervenções.  

O caminhante é um menir ambulante, como nos ensina Francesco Careri, incorporando personas ou devires em sua caminhada: peregrino, expedicionário, errante, nômade, pedestre, viajante, flaneur, situacionista, surrealista. E cada devir tonaliza modalidades qualitativas no modo de caminhar  – derivar, deambular, flanar, atravessar, perseguir, tropeçar, parar, pular, correr, deslizar. E cada devir ativa camadas de leituras: antropológica, urbanística, histórica, etnográfica, científica, poética. E cada devir inscreve na paisagem outras interpretações. E cada devir acorda, no corpo do caminhante, espacialidades e temporalidades, descolando escrituras e leituras inventoras de paisagens que habitam os territórios percorridos ou a serem  percorridos – o caminhante é um escritor e um leitor ao mesmo tempo. O deslocamento seria uma espécie de partitura coreográfica, provocando descolamento de sentidos. 

Surgem perguntas que entendo como recorrentes e estruturais nos vários Relatos de Caminhantes, através dos tempos e que podem, aqui, nos ajudar  a desenhar balizas para a fundação dos caminhos a serem percorridos: 

  •  Que corpo é este que manifesta a compulsão de atravessar e ser atravessado pelos territórios e pelos tempos?  
  •  Quais seriam os impulsos que qualificam os caminhos, um tanto oscilantes, entre os desejos de refúgio e evasão, os de estranhamento e pertencimento? 
  •  Quais seriam as dramaturgias que emergem daquilo que nos difere, compreendendo o ato de caminhar como uma metáfora dos encontros das diferenças?  
  •  Como construímos os relatos, as narrativas, as imagens reveladas no embate entre a representação mental do lugar – o mapa – e a experiência física do lugar – o território –, realizada na linguagem ? 
  • Quais seriam os modelos a priori que regem nossa sensibilidade? 
  • Sendo o ato de caminhar imbuído de uma necessidade atávica, o que tem de tão contemporâneo  nessa ação?


Bem, são essas algumas das pedras no sapato, digo, algumas das questões recorrentes que habitam os interstícios de qualquer caminhada, entrelaçadas com o programa do caminhante que almeja cartografar pedaços de mundo. 

Caminhar é experiência intransferível: efêmera, impalpável, impressa nos traços de nosso DNA. Como visibilizar a rede de experiências que nascem do ato em si de caminhar, vertidas para a linguagem – seja artística ou científica – , propositora e ativadora de sensibilidades? O programa da pós intenta oferecer repertório iconográfico, chaves teóricas/conceituais, oficinas com distintas linguagens, imersões em espaços urbanos e rurais, para ressignificar as conjugações do corpo e seus deslocamentos espaço-temporais. 

Em tempos tão turbulentos, tais como os atuais, atravessados em nossa  jornada planetária por questões cruciais à sobrevivência material e espiritual, dadas as urgências que solicitam programas de proteção ambiental e preservação da ecologia humana em todas as instâncias, o ato de caminhar  se reveste de outras camadas que ressignificam o ato artístico, visando leituras simbólicas, existenciais, etnográficas, antropológicas e outras. A extrema necessidade de retomar as medidas do corpo e as extensões perceptivas espaço-temporais se tornam alavancas para a desaceleração como  modalidades de resistência à velocidade que o ambiente virtual, tecnológico, comunicacional, bem como os modos de produção, impõem como padrão de vida funcional, pragmático, produtivo. 

Problematizar os impactos do cotidiano sobre as nossas vidas ‘comunitárias’ se torna vital, dada a exploração violenta dos recursos naturais e humanos. As questões sobre mobilidade social, física, territorial se colocam num primeiríssimo plano para as nossas emergências geopolíticas atuais como desafios constantes para redesenharnos nossas outridades e alteridades. 

Constatando o exaurimento dos modelos vigentes, da crise aguda das representações, esta pós-graduação surge como a materialização para atender aos chamados para uma desejada superação desses limites e fronteiras, convocando nossa eterna vitalidade em direção à conquista heróica e mítica do desejo do deslocamento. Sim, tarefa hercúlea, da qual não sabemos ainda o alcance e os resultados, mas nada melhor do que a linha de horizonte  inalcançável para nos movimentar, nos deslocar, e descolar campos de sentidos possíveis e impossíveis.

*****

Para explicitar o programa, segue aqui a descrição dos núcleos de trabalho que giram ao redor desses temas e derivações: 

1.Caminhada e seus percursos históricos - do Neolítico à Arte Contemporânea

2. Caminhada e a História do Corpo – do funcional ao poético 

3. Caminhada e os saberes da Ciência 

4. Caminhada na Literatura e Filosofia

5. Caminhada e as modalidades de registro – desenho, fotografia, vídeo, escrita   

6. Caminhada na paisagem urbana e natural: mapa e território, cartografias poéticas

 

1. Caminhada e seus percursos históricos - do Neolítico  à Arte Contemporânea

O ato de caminhar é uma necessidade atávica e funcional, constitutivo da formação do homo faber/homo ludens, fundamental para a constituição da subjetividade de todo o percurso civilizatório – desde as primeiras migrações nas eras arcaicas, até a formação dos núcleos urbanos contemporâneos. Iremos sinalizar a entrada do assunto o ato de caminhar, que inaugura sua presença como matéria poética na Arte Contemporânea, desde o Romantismo até os dias atuais. Dos nômades arcaicos aos artistas-caminhantes contemporâneos, alguns recortes históricos se destacam na Literatura e na Arte, atuando como propositores de caminhadas extensas pela cidade –  das práticas literárias de escritores como Flaubert, Thoreau, Rousseau; às práticas dos dadaístas/surrealistas; dos situacionistas; e, mais recentemente, dos artistas da década de 1960/90, tais como Richard Long, Hamish Fulton, Francis Alyis, aos coletivos performáticos presentes na   cena urbana.  

 

2. Caminhada e a História do Corpo – do funcional ao poético e suas derivações

Esse módulo pretende instrumentalizar os alunos para a problematização da História do Corpo e suas interrelações com o tempo e  o espaço – desde a compreensão de seu funcionamento no processo de desenvolvimento do corpo bípede. capaz de  atravessar longas distâncias, às suas potências expressivas como linguagem poética. O enunciado “a caminhada como prática poética” implica na compreensão do próprio corpo como assunto de linguagem. A busca de referências e repertórios na História da Arte irá evidenciar as passagens do corpo arcaico e anímico ao corpo racional; do corpo  pragmático, clássico e funcional ao corpo poético e expressivo que emerge a partir do Romantismo e Modernismo, se estendendo até os dias atuais em outras   versões. O corpo será tomado como assunto que motivará a investigação do ato de caminhar no  arco extenso do percurso da civilização  humana.

 

3. Caminhada e os saberes da Ciência (astronomia, geologia, antropologia, ecologia e afins)

Considerando o ato de caminhar como uma necessidade fundante da constituição da espécie humana para atravessar os tempos e os espaços – desde as rotas migratórias arcaicas até os fluxos   globais – a Ciência se faz presente como instrumento de decodificação da Natureza, garantindo a sobrevivência da espécie. Da observação das estrelas às correntes marítimas; da formação geológica da terra à construção de ideia de paisagem;  bem como o significado da dimensão simbólica e real do encontro com o desconhecido que o ato de caminhar proporciona aos caminhantes,  desde os nômades arcaicos aos atuais viajantes.          

                                                                                         

4. Caminhada na Literatura e Filosofia

A Literatura e a Poesia são matérias extensas no que diz respeito à questão da caminhada, envolvendo desde os relatos de viajantes descobrindo o mundo na Antiguidade, até as novas modalidades de deslocamento e, portanto, de percepção espaço temporal, dado o GPS. De Lao Tsé a Baudelaire, de Walter Benjamin a Italo Calvino, iremos nos debruçar   sobre  esse amplo universo, onde escrever e caminhar são atos correlatos. A filosofia guarda, em sua tradição, os relatos verbais dos primeiros filósofos gregos que caminhavam acompanhados de seus discípulos – a Escola Peripatética – até  as recentes teorias filosóficas deleuzianas que, desde Spinoza, incorporam o corpo andante agregado ao fluxo do pensamento como assuntos  filosóficos para a compreensão da essência da matéria vida e morte em seus percursos indeterminados.

 

5. Caminhada e   as modalidades de registro – desenho, fotografia, vídeo   

Os instrumentos de captura da observação e da percepção sempre se fizeram presentes, em toda e qualquer experiência humana. Em se tratando de percurso físico de um lugar ao outro, cuja natureza da experiência é absolutamente efêmera e fugaz, trata-se de se apropriar de modalidades de registro – seja através do desenho, da escrita, da fotografia, do vídeo – para que  as observações sejam passíveis de se tornarem linguagem – relatos narrativos, desenhos, livros de artista, performances e outras linguagens expressivas. Para tanto, iremos capacitar os estudantes a entenderem  e se apropriarem da especificidade de cada linguagem como método de construção do pensamento e suas decorrentes aplicações, seja no campo da Arte, seja no campo da Educação. 

 

6. Caminhada na paisagem urbana e natural : mapa e território

O ato de caminhar implica no atravessamento e deslocamento físico de um corpo pelos espaços – sejam eles urbanos ou rurais, artificiais ou naturais – esbarrando na realização de conceitos que envolvem a noção de mapa e território. Cartografia, topografia, fronteira, borda, vias, limites – são alguns dos elementos constitutivos na elaboração de conceitos que desenham a construção da ideia de paisagem, envolvendo informações oriundas da relação entre natureza e cultura; arte e arquitetura; a história da construção das cidades e seus fluxos; as fricções entre centros e periferias, entre sedentarismo e nomadismo contemporâneos.     

  

7. Metodologia da Pesquisa

O objetivo é favorecer a elaboração dos Relatos de Caminhante, nome dado ao trabalho de finalização do curso. Serão debatidas abordagens contemporâneas de pesquisa em ciências humanas em geral, e em arte e educação em particular; serão destacados procedimentos de levantamento e de análise de informações em pesquisas acadêmicas; serão analisados os tipos de registros acadêmicos que podem ser incorporados ao trabalho final e serão debatidas as condições para invenção de escrita autoral e capaz de revelar conhecimentos efetivamente elaborados no percurso de formação de cada um dos caminhantes-pesquisadores.

                                                             

Professores, artistas  e pesquisadores que compõem a trilha até então percorrida, desde 2018: Ângela Castelo Branco, Alice Ruiz, Noemi Jaffé, Guilherme Wisnik, Jacopo Crivelli, Gabriela Leirias, Renato Hofer, Inês Bonduki, Rodrigo Gontijo, Cecília Salles, Stela Barbieri, Arthur Iraçu, Luiza Christov, Giuliano Tierno, Rita Mendonça, Laerte Sodré Jr, Natalia Barros, Marcelo Semiatzh, Ricardo Luiz Silva, Rodrigo Paglieri, Daniela Avelar, Renan Marcondes, Verônica Veloso, Vânia Medeiros, Tamara Andrade, Cecília Salles, Leticia Leisenfelf, Barbara Melo.

 

 

Referências

ARENDT, Hannah. Pensar sem corrimão. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2021.

CARERI, Francesco. Walkscapes: caminhada como prática estética. São Paulo: Gustavo Gili, 2013.

COCCIA, Emanuelle. A vida das plantas: uma metafísica da mistura. Florianópolis (SC): Cultura e Barbárie, 2018.

GAGNEBIN, Jeanne Marie. O método desviante. Revista Trópico, dezembro, 2006.  Disponível em   . Acesso em 18 mai2023.

INGOLD, Tim. Dédalo e labirinto. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 21, n. 44, p. 21-36, jul./dez. 2015.

LARROSA, Jorge. Notas sobre experiência. In: Tremores: escritos sobre experiência. Belo Horizonte (MG): Autêntica, 2014.

LENINE. A ponte. Álbum Tarja Preta, 2004.

LISPECTOR, Clarice. Forma e conteúdo. In A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1994. 

MAFFESOLI, Michel. Sobre nomadismo: vagabundagens pós-modernas. São Paulo: Record, 2001.

PEREC, Georges. Lo Infraordinario. Madrid (ES): Impedimenta, 2008.

PEREC, Georges. Espèces d'espaces. Paris (FR): Seuil, 2022. Tradução em português Disponível em http://grupoflume.com.br/wp-content/uploads/2020/10/Espe%CC%81cies-de-espac%CC%A7os.pdf>. Acesso em 18mai2023.

SCLIAR, Moacir. A arte de caminhar. Disponível em <https://blog.methodus.com.br/noticias/a_arte_de_caminhar/>. Acesso em 18mai2023.

VALÉRY, Paul. Poesia e Pensamento Abstrato. In: Variedades. São Paulo: Iluminuras, 2000.





 


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